Trabalhadores do Polo Naval ansiavam por medidas para deter o enxugamento de vagas
Em Rio Grande, operários retiram faixa de boas-vindas depois de serem informados do cancelamento da visita da presidente Foto: Diego Vara / Agencia RBS
Nilson Mariano
nilson.mariano@zerohora.com.br
Um dos construtores da P-55 e que está aflito sobre o corte de vagas no Polo Naval, o mecânico Luciano Quintana, 41 anos, ficou decepcionado com a ausência de Dilma Rousseff. Esperava que a presidente pudesse desfazer o clima de desalento, causado pela média diária de 90 demissões — o cálculo é do Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande e São José do Norte.
Ao contrário de outros trabalhadores, que ignoravam a desistência de última hora, Quintana estava atento às notícias desde cedo. Segurando o capacete à mão, com o uniforme azul-marinho da empresa, lamentava-se, cabisbaixo:
— Fiquei chateado. Foi criada toda uma expectativa, prepararam tudo para receber a Dilma.
Quintana e os colegas queriam entregar a P-55 diretamente para a presidente. Parte deles será remanejada para a construção da P-58, mas já sabe que não haverá vaga para todos.
— Sou ciente de que uma obra termina, não é para a vida toda, mas há muita indefinição — disse Quintana, pai de uma filha e morador de Rio Grande.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande e São José do Norte, Benito Gonçalves, destacou que a situação é preocupante. Calculou que, dos 24 mil operários do auge do Polo Naval, sobraram em torno de 19 mil com a conclusão gradual das obras.
— Está havendo uma média de 90 desligamentos por dia, desde o início do mês — disse.
Sindicatos entregariam lista de reivindicações
Benito assegurou que Dilma seria bem recebida, como aconteceu na visita de setembro do ano passado, até porque trouxe a promessa de mais duas plataformas, o que pode reverter, ao menos parcialmente, as demissões. No entanto, oito sindicatos — metalúrgicos, caminhoneiros, operários da construção civil e outros — pretendiam entregar um documento à presidente, com reivindicações específicas para cada categoria.
— Para os metalúrgicos, é mais atenção aos empregos no Polo Naval — disse Benito.
No Estaleiro Rio Grande, onde Dilma seria recepcionada, o cenário era de frustração. Às 9h30min, os operários Jefferson Fonseca (23 anos, de São Paulo) e Diego Eleto da Silva (20 anos, de Minas Gerais), não sabiam do cancelamento da cerimônia.
— Ela não vem? Mas todos nós estamos na expectativa — surpreendeu-se Jefferson.
Comerciantes que se estabeleceram com tendas em frente ao estaleiro, às margens da rodovia, também lastimaram a ausência. Vera Lúcia Pavelak, 40 anos, que vende café e sanduíches aos operários, desejava, pelo menos, abanar de longe para Dilma.
— Na última visita, consegui ver ela — contou.
Funcionários da Petrobras realizaram uma cerimônia informal, de entrega da P-55, mas sem permitir o acesso a jornalistas. Afixada à entrada do estaleiro, a faixa "Bem-vinda, presidenta Dilma" — do jeito que ela gosta, com a flexão feminina do cargo — não teve a quem saudar.
Fonte: Zero Hora
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