Na obra de construção desse gigante, 14 mil trabalhadores foram contratados, distribuídos em vários consórcios. Centenas desses trabalhadores estão em alojamentos no entorno do Comperj e os outros residem nas redondezas e na Baixada Fluminense. O grande problema da obra é que esses consórcios tratam os trabalhadores como animais. Exploram e desrespeitam o tempo todo.
A Petrobrás, que deveria tomar a frente e cobrar dos consórcios respeito aos direitos dos trabalhadores, “lava as mãos”. Por isso afirmamos que a direção da Petrobrás é a principal responsável pelos maus tratos e o desrespeito com os trabalhadores por parte dos consórcios.
Tem empresa que não deposita o FGTS há seis meses. Outras não pagam hora-extra nem adotam o sistema de banco de horas, obrigando os operários a trabalharem além da jornada legal. Muitas delas também não garantem a folga legal para os trabalhadores de outros estados, o que inviabiliza visitarem suas famílias. Os trabalhadores reclamam da comida e do transporte.
Tudo isso está transformando o Comperj num caldeirão, palco de várias greves. No momento mais uma greve está acontecendo, agora como parte da campanha salarial. Os trabalhadores reivindicam: aumento real de salário; melhores condições de trabalho; e o não desconto dos dias parados em greves anteriores, já que os culpados pelo desrespeito aos direitos trabalhistas são os patrões, não cabendo aos empregados pagarem a conta pelas paralisações. Além disso, os operários reclamam das distorções entre os salários nas mesmas funções.
O Sinticon-SG é o sindicato que representa os contratados nas obras do Comperj. Mas Sindipetro-RJ, que representa os funcionários da Petrobrás, está lutando ao lado desses trabalhadores, em busca de soluções para uma crise que, não temos dúvidas, só será resolvida com a intervenção da Petrobrás.
No dia 11 de abril último, representantes dos dois sindicatos estiveram com o Diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto, que se comprometeu a se reunir com os responsáveis pelos consórcios com o objetivo de apresentar uma contraproposta da empresa aos grevistas, na assembleia marcada para quinta (12).
O Sinticon-SG disse ao diretor que sem uma contraproposta formalizada a greve vai continuar. Com a continuidade da greve, os trabalhadores discutem fazer uma concentração em frente ao Edise, sede da companhia, em busca de uma saída para o impasse.
No canteiro de obras, até agora nada de grave aconteceu, mas a presença ostensiva da polícia, com armas de grosso calibre, causa apreensão. No entanto, diga-se de passagem, até o momento os policiais tem se limitado a assistir ao conflito, a impedir um ou outro piquete, chegando a ameaçar alguns trabalhadores de prisão, embora sem truculência.
Mas a tensão no canteiro de obras cresce. Trabalhadores, grevistas e não grevistas estão apavorados com a situação. As mulheres choram. O clima fica mais angustiante a cada dia. Estamos por um fio.
Agindo com justiça e cautela, a direção da Petrobrás tem todas as condições para evitar um desastre maior, que poderia por em xeque a obra e expor a riscos a vida dos trabalhadores.
Mas, se depender unicamente da intransigência dos consórcios, a tendência é a greve continuar por tempo indeterminado. Talvez por que eles saibam que, em última instância, é a Petrobrás que será responsabilizada.
Estamos assistindo a um verdadeiro jogo de empurra entre os consórcios e a Petrobrás. Perguntamos: será que a presidenta Dilma sabe desse conflito?
Será que os dirigentes da companhia estão capacitados para resolver os graves problemas sociais e trabalhistas do Comperj?
A direção do Sindipetro-RJ tem feito seu papel, tentando viabilizar reuniões entre a direção da empresa e os grevistas. Caso a situação fuja do controle, ninguém poderá alegar “eu não sabia”.
* Emanuel Cancella é diretor do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro
Fonte: Portogente (Emanuel Cancella)
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