segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Escola oferece curso que acaba às 2h da madrugada

Nunca os brasileiros estudaram tanto. Tem gente até trocando o sono por um curso na madrugada.

A gente vive lendo, ouvindo por aí, que, no Brasil, falta mão de obra qualificada, que as empresas querem contratar, mas não encontram pessoal, que vem gente do exterior para ocupar vaga de trabalho por aqui. Pois essa história está mudando. Nunca os brasileiros estudaram tanto.
Tem gente até trocando o sono por um curso na madrugada.

São 23h. Um show começa e um jornal é impresso. Mas também começa uma aula. “É um pouco cansativo, mas é a única opção que temos”, diz o Antônio Nascimento, aluno do curso.

“Quando via, um estava acordando o outro. Batia palma, o professor sempre fazendo brincadeira com a gente para a gente poder despertar”, conta a aluna Adriana de Oliveira.

É o primeiro turno do curso de solda, oferecido de graça para moradores de comunidades ocupadas pela polícia pacificadora do Rio de Janeiro. Levou o apelido de corujão, por causa do horário. A aula acaba às 2h da manhã. É quando o pedreiro Jonas da Silva, aluno do curso, consegue ir para casa.

“São 3h20 da manhã, vai deitar com o compromisso de acordar às 6h, para às 6h30 aprontar as crianças para o colégio”, relata Jonas.

São duas horas de sono por dia.

Na hora em que Jonas está quase indo para cama, o mototaxista Carlos da Cruz, aluno do curso, está saindo de casa. São 4h da manhã. O pão vai para o forno. O jornal sai da gráfica. Carlos chega para o segundo turno do curso de solda, o 'galo da madrugada', das 4h às 7h da manhã. “É cansativo ficar acordando a essa hora todo dia e depois ter que trabalhar”, diz Carlos.

São 12 alunos em cada turma, pessoas que não teriam chance de estudar em outro horário, mas que acreditam que a hora é agora.

Os alunos da madrugada são um exemplo de um fenômeno recente do Brasil: De 2004 a 2010, o número de alunos formados em cursos profissionalizantes aumentou 75% nas seis maiores cidades do Brasil.

A turma do galo da madrugada vê o sol nascer ainda na aula. A essa hora, Jonas, do turno do corujão, já acordou e desce com os filhos a escadaria do Morro dos Macacos. A comunidade ficou conhecida quando um helicóptero da polícia foi derrubado por traficantes, em 2009.

Jonas tem planos para quando terminar o curso. Vai continuar acordando cedo para conseguir um emprego de soldador.

“Vou fazer essa rotina: acordar às 6h da manhã. Vou lá para Niterói rodar todos os estaleiros”, planeja.

Ele já fez outros cursos antes, mas, assim como os colegas, ainda espera uma chance. “Vamos bater nas portas. Umas delas vai ter que se abrir.”

Segundo uma pesquisa, em indústrias e na construção civil, 42% das empresas aumentaram o número de funcionários nos últimos seis meses, e 60% devem abrir mais vagas no ano que vem. Às 7h, Jonas toma café.

Carlos está saindo do curso, direto para o batente. Ele é mototaxista. “São 7h30 ainda”, ri Carlos. “Fico até 7h ou 8h. Se eu ver que arrumei um dinheiro agradável, vou embora para casa.”

“Como soldador, acho que vai ser melhor”, reflete Carlos. “Pelo menos não vou correr o risco que eu corro todo dia na rua.”

“Eu não estou fazendo esse curso para ganhar muito ou pouco. A gente sempre pensa em estar pronto, estar pronto para o mercado”, comenta Jonas.

Na pesquisa, 71% das empresas afirmam contratar pessoal com menos qualificação do que precisam por falta de gente com boa formação.

Jonas chega ao trabalho às 8h. Fica até 19h. Ele faz de tudo. Hoje vai pintar as paredes de uma autoescola.

Juliano Nogueira fez o mesmo curso que Jonas e Carlos. Hoje, não só trabalha como soldador como é professor de solda em Vitória, no Espírito Santo.

“Eu estudava dois períodos, manhã e tarde no Senai, e acrescentei mais esse curso na madrugada. Se quer estar dentro do mercado de trabalho, tem que se adequar ao que o mercado de trabalho exige”, sugere Juliano.

Um centro universitário em São Paulo abriu 2,5 mil vagas em horários chamados alternativos: um das 23h às 1h45 e outro das 5h45 às 8h30. O foco são pessoas que trabalham o dia inteiro e vão usar o que aprendem no curso no dia a dia do seu trabalho.

“Eu me levanto bastante cedo, sou voluntária de uma ONG na parte da manhã. Eu trabalho das 14h às 22h40. Eu saio rapidinho para a faculdade”, relata a estudante Denise Baffa.

Em dez anos, de 1999 a 2009, o número de universitários passou de poucos mais de dois milhões para cinco milhões.

“O foco é fazer gerenciamento de uma das lojas do qual grupo que eu trabalho”, explica Denise.

“Trabalho das 7h às 17h, chego em casa, vou para a igreja, tomo um banho e vou para faculdade”, diz o estudante de administração Rogério de Lima. “Durmo duas ou três horas por noite.”

“A minha expectativa é única: que amanhã seja melhor que hoje”, resume Jonas.

Mais um dia. São 23h e o dia de Jonas ainda não acabou. Às 3h, o dia de Carlos está só começando.

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